Metáfora de Vida
Etapa de 41 km entre O Cebreiro e Sarria
Dia 10 de novembro, o caminho foi uma metáfora de vida. O meu objetivo no Caminho de Santiago era fazer um caminho de fé. Visitar igrejas e museus, participar das missas, receber a benção aos peregrinos e caminhar sem pressa, sem preocupações, desligando-me do mundo e concentrando-me no caminho.
Para o Luiz, o Caminho de Santiago era mais um desafio pessoal, desportivo. Como nas viagens de bicicleta anteriores, tinha uma evolução. Próximo ao final, era o “sprint”, o ponto máximo de performance, o tudo ou nada. Assim, tinha sido nos últimos dias, quando fomos batendo um recorde atrás de outro. Os 31km da etapa de Logroño a Nájera foram inspiração para outros desafios, como 32,7 km carregando as mochilas, depois, 30km sem as mochilas e, finalmente, a etapa do Cebreiro à Sarria, de quase 41km, duas etapas em um único dia!
A proposta era não pular etapas a partir de Rabanal del Camino, da emblemática Cruz de Ferro. Para isso, teríamos que cumprir as etapas restantes dois dias antes do programado no guia Michelin do Caminho Francês. Como já estamos bastante treinados, cumprir distâncias maiores não deveria ser um problema.
Meta dada, meta cumprida. Aliás, foi uma meta desafio de 150%. Eu, que já estava mais do que acostumada e condicionada a receber metas, encarei o desafio e foquei no seu cumprimento. Como fiz na maior parte da minha vida, sem questionar, sem refletir muito, corria atrás da meta.
Só que neste dia, o caminho para mim não teve nada a ver com o meu objetivo aqui. Já foi com ansiedade, que comecei o dia. O medo de que anoitecesse antes que chegássemos ao albergue, fez com que, desde cedo, eu quisesse controlar a velocidade da caminhada. A manhã foi de chuva e era impossível acelerar o passo. As batidas do bastão de caminhada no chão eram com força, quase com raiva. As descidas, foram várias, eram duras e rápidas.
Quando eu ousei comentar que os meus joelhos estavam sendo testados, o Luiz dispara: “Mas você não comprou palmilhas de R$400 para evitar a dor nos joelhos?”. Foi a gota d’água. Aquilo fez com que eu acelerasse ainda mais o passo, mantendo distância de 300m à frente do Luiz por quase todo o trecho. Era a distância segura! O afastamento que eu impunha a quem me dava metas. Era assim no passado, foi assim naquele dia. Não será assim no futuro...
Perdi a missa aos peregrinos na Igreja de Sarria. Mas, a partir daquele dia, faria a caminhada no passo normal, parando para contemplar as paisagens, entrando nas igrejas, sem pressa, sem raiva, sem meta...
Etapa de 41 km entre O Cebreiro e Sarria
Dia 10 de novembro, o caminho foi uma metáfora de vida. O meu objetivo no Caminho de Santiago era fazer um caminho de fé. Visitar igrejas e museus, participar das missas, receber a benção aos peregrinos e caminhar sem pressa, sem preocupações, desligando-me do mundo e concentrando-me no caminho.
Para o Luiz, o Caminho de Santiago era mais um desafio pessoal, desportivo. Como nas viagens de bicicleta anteriores, tinha uma evolução. Próximo ao final, era o “sprint”, o ponto máximo de performance, o tudo ou nada. Assim, tinha sido nos últimos dias, quando fomos batendo um recorde atrás de outro. Os 31km da etapa de Logroño a Nájera foram inspiração para outros desafios, como 32,7 km carregando as mochilas, depois, 30km sem as mochilas e, finalmente, a etapa do Cebreiro à Sarria, de quase 41km, duas etapas em um único dia!
A proposta era não pular etapas a partir de Rabanal del Camino, da emblemática Cruz de Ferro. Para isso, teríamos que cumprir as etapas restantes dois dias antes do programado no guia Michelin do Caminho Francês. Como já estamos bastante treinados, cumprir distâncias maiores não deveria ser um problema.
Meta dada, meta cumprida. Aliás, foi uma meta desafio de 150%. Eu, que já estava mais do que acostumada e condicionada a receber metas, encarei o desafio e foquei no seu cumprimento. Como fiz na maior parte da minha vida, sem questionar, sem refletir muito, corria atrás da meta.
Só que neste dia, o caminho para mim não teve nada a ver com o meu objetivo aqui. Já foi com ansiedade, que comecei o dia. O medo de que anoitecesse antes que chegássemos ao albergue, fez com que, desde cedo, eu quisesse controlar a velocidade da caminhada. A manhã foi de chuva e era impossível acelerar o passo. As batidas do bastão de caminhada no chão eram com força, quase com raiva. As descidas, foram várias, eram duras e rápidas.
Quando eu ousei comentar que os meus joelhos estavam sendo testados, o Luiz dispara: “Mas você não comprou palmilhas de R$400 para evitar a dor nos joelhos?”. Foi a gota d’água. Aquilo fez com que eu acelerasse ainda mais o passo, mantendo distância de 300m à frente do Luiz por quase todo o trecho. Era a distância segura! O afastamento que eu impunha a quem me dava metas. Era assim no passado, foi assim naquele dia. Não será assim no futuro...
Perdi a missa aos peregrinos na Igreja de Sarria. Mas, a partir daquele dia, faria a caminhada no passo normal, parando para contemplar as paisagens, entrando nas igrejas, sem pressa, sem raiva, sem meta...
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